FUMAÇA (7/11/2019)
Muito antes do mundo conhecer a palavra genocídio, inventada em 1943 pelo advogado judeu polaco Raphael Lemkin, para descrever as tentativas nazis de exterminar os judeus, os yazidis – uma comunidade religiosa com origens no Médio Oriente – já usavam a palavra firman para se referir às perseguições que sofreram durante séculos.
Em agosto de 2014, o autoproclamado Estado Islâmico, também conhecido como Daesh, invadiu o distrito de Sinjar ou Shengal, em curdo, no norte do Iraque, onde se concentrava a minoria religiosa Yazidi. Considerados “infiéis” e “adoradores do diabo”, cerca de 5.000 pessoas foram mortas. Mais de 6.000 mulheres e crianças foram raptadas. Vendidas como se fossem mercadoria, foram escravizadas e sistematicamente violadas e torturadas.
Antes de 2014, os yazidis já contavam 73 firmans – decretos de extermínio. A última tentativa de eliminar a comunidade Yazidi no Iraque foi reconhecida como genocídio pelas Nações Unidas. Mas ainda não foi reconhecida, formalmente, em Portugal.
ara marcar os cinco anos do genocídio Yazidi, vamos explorar o que aconteceu nesse agosto de 2014, numa reportagem dividida em duas partes.
Eu sou a Marta Vidal, vivo e trabalho no Médio Oriente. Em março deste ano, viajei até ao norte do Iraque, conhecido como Curdistão iraquiano, para perceber como os deslocados estão a lidar com o trauma e a memória dos crimes cometidos contra os yazidis. Passei dez dias entre Erbil, a capital da região autónoma curda do Iraque, Suleimania, perto da fronteira do Irão, e Dohuk, perto da fronteira da Síria.
Seja toda a gente bem-vinda ao Dois Pontos, um programa Fumaça, de histórias contadas com tempo.